Olá, valente leitor.
Mais uma vez cruzando o vão sombrio de um feriado com emenda, este é o momento que percebemos que sobrevivemos. Quem diria, hein?
Esta foi uma semana repleta de sentimentos inesperados e descobertas óbvias, como em uma leitura de tarot em que a pessoa tira as cartas na sua frente e faz “ah!” e você também faz “ah!”, só que a pessoa sabe o que aquelas cartas significam. Você, não.
Fingir que entende das coisas só para se sentir parte delas é um comportamento muito natural e dentro do tom, ainda mais para nós, né meninas. E, nisso, você se mete em cada uma…
No meu dia de folga, fui a uma mega exposição interativa sobre filmes de terror. Apenas quando adentrei o espaço, e me vi sozinha em uma sala escura com efeitos sonoros horripilantes e uma cadeira de dentista coberta do que deveria ser a ideia de sangue, foi que me dei conta de que deveria ter chamado alguém para ir comigo. Mas quem?
Segui sozinha, de corredor em corredor, de susto em susto, pensando que estou tão acostumada a fazer tudo sozinha que até o tamanho do meu medo eu negocio comigo mesma. Relativizo a importância daquilo. O que é entrar em uma sala e dar de cara com uma boneca em tamanho natural da menina d’O Exorcista, com a cabeça virada em um ângulo humanamente impossível e gritando com voz mecânica “sai daquiiiiii! sai!!!! eu vou possuir você!!! sai!!!!”? Absolutamente normal. É apenas uma boneca.
Dez minutos depois de sair da exposição, a qual passei exatos 90 minutos dentro, meu coração ainda batia acelerado.
Dali fui para um shopping comprar um vestido. Como qualquer uma de nós faria. Enquanto provava lentamente - e altamente consciente do volume que meu corpo ocupa em uma diminuta cabine de loja de roupas - cada um dos 35 vestidos que a moça achou literalmente a minha cara, ainda pensava na exposição. Em uma das ativações, duas portas. Uma levava a um labirinto. A outra porta dizia apenas “Covardes” e não levava a nada em particular. Pensei: Estou sozinha. Se eu decidir ir pela porta dos covardes, ninguém vai saber que tive medo. Tudo bem.
Mas aí pensei: Eu vou saber que tive medo.
Entrei no labirinto. Às vezes fico pensando muito nisso, do quanto eu faço as coisas pra agradar os outros, no sentido de dar a eles o que esperam de mim, e no quanto eu faço o que eu realmente quero. Tenho feito bastante terapia pra entender que, muitas vezes, a linha entre esses limites é tão borrada que esses conceitos se perdem. Na maioria das vezes, não sei bem o que quero. Passei tanto tempo abrindo mão de mim mesma a serviço da aprovação alheia que hoje ainda não sei muito bem quem sou.
O labirinto era sufocante, corredores escuros cobertos de espelhos inviesados, algo parecido com o que vemos no filme “Nós”, na cena do parque de diversões. O silêncio era sepulcral. Andei por ali por muitos minutos, até dar em uma sala iluminada cheia de pôsteres dos meus filmes favoritos. Em um canto da sala, um moço guia/segurança do museu me olhou com o mais profundo tédio: “Parabéns, você achou a saída”.
Dos 79 mil vestidos que experimentei, escolhi um de que gostei muito. É para o casamento de amigos nossos. Tenho uma coisa com eventos importantes, nunca sei o que vestir e me enrolo tanto pra decidir que, no fim, improviso com o que tenho em casa, não me preparo, e aí passo o evento todo me sentindo feia, deslocada. Faz um tempo que percebi que isso era uma autosabotagem inconsciente. No fundo, não me achava merecedora de me cuidar um pouquinho, escolher um look, pensar em sapatos, bolsas, em me maquiar. Hoje consigo ver isso com mais clareza, consigo entender que sou adulta o suficiente para tanto, que posso pensar com antecedência e me produzir com cuidado, como a ocasião demanda e como eu mereço.
Comprei o vestido só para a ocasião, é a primeira vez que faço isso para um casamento. No caixa, a moça era só sorrisos: Ficou perfeito em você, fez uma ótima escolha. Parabéns!
Tão simples e assustador quanto cruzar o labirinto sozinha, eu pensei. Mas deu certo, não deu? A porta dos covardes tem muitas fachadas, a das nossas escolhas verdadeiras sempre nos leva aos mesmos lugares, ao lugar onde devemos estar.
E assim, vamos seguindo em frente.
Na semana em que fomos surpreendidos pela avassaladora notícia da morte do ator Matthew Perry eu, como um abutre carente e inconsolável, corri ler sua autobiografia “Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível” buscando pura e simplesmente alguma explicação, algum sinal, algum alento.
É uma leitura brutalmente triste. Quem sabe não fosse tanto, não fosse este terrível contexto de agora, mas o fato é que é muito melancólico ler o quanto Perry lutou por sua vida, o quanto ele queria estar aqui e levar sua mensagem adiante. Mas não teve tempo.
Não é uma leitura fácil. Não há ali a explicação para o absurdo de sua perda, não há sinais. Existe, sim, o alento, de saber que ele foi uma pessoa incrível, que amava viver. Para nós, fica o legado que ele deixou, e essa força absurda de buscar alegria mesmo no pior da vida. Que a gente possa aprender com ele.
Pessoal, vamos tentar focar em não deixar nada, ou tudo, estragar o nosso dia, que tal? Eu sei que positividade tóxica é chatão, mas nem é sobre isso, é só sobre ficar assim mais de boa, sabe?
Será? Só uma ideia. Depois a gente vê. Sem pressão.
Fiquem bem, até semana que vem!
beijos, Tati. 🐯
único jeito possível de começar a semana